A sustentabilidade dos oceanos é um dos principais temas de debate do
5º Congresso Brasileiro de Oceanografia, que será aberto na noite desta
terça-feira (13), no Rio de Janeiro. Carlos Leandro da Silva Júnior,
vice-presidente da Associação Brasileira de Oceanografia e que preside o
congresso deste ano, defendeu controle ambiental na área de exploração
do pré-sal.
"A gente tem visto aumento da produção de petróleo e a discussão no
Congresso em torno da divisão dos royalties do petróleo, mas ninguém
bota a questão ambiental no âmbito do pré-sal. Ou seja: o que está se
fazendo na realidade para um bom monitoramento ambiental da região que
ninguém conhece?"
O oceanógrafo enfatiza a necessidade de se evitar o que ocorreu na
Bacia de Campos, no Estado do Rio de Janeiro. Para ele, os trabalhos de
exploração e perfuração começaram a ser efetuados antes da realização de
estudos ambientais. Com isso, perderam-se as referências de como era o
ambiente naquele local.
O presidente do congresso ressalta a importância da linha base do
processo de conhecimento, para evitar consequências negativas no futuro.
"Como você vai preservar uma coisa que não conhece?”, indagou. "A gente
acha que antes de começar a produção e os investimentos, a preocupação
deveria ser a realização de estudos em oceanografia para desenvolver o
conhecimento na região, ter o mapeamento de tudo da área de biologia, de
pesca, química, sísmica, para depois poder furar".
Prejuízos à flora e à fauna marinha também serão abordados: "Não se pode mitigar alguma coisa sem conhecer antes."
Outra preocupação diz respeito à questão das energias renováveis nos
oceanos. Isso envolve, segundo o presidente do congresso, a geração de
energia a partir das ondas e a energia eólica no mar. "São temas que têm
de ser discutidos." Os corais encontrados em águas profundas e os
impactos das mudanças climáticas nos corais são outros temas que serão
debatidos durante o encontro, que se estenderá até o próximo dia 16.
Carlos Leandro salienta, ainda, a questão da gestão e da segurança dos
portos. "Em um país como o nosso, que precisa crescer, porto é
fundamental do ponto de vista de exportação e importação. O Brasil
precisa ter bons portos, com segurança operacional, com conhecimento das
áreas do entorno". É preciso que os portos estejam preparados para
grandes acidentes, com planos de emergência para as áreas, defende.
O monitoramento e a mitigação de vazamentos de óleo no mar serão
examinados durante o congresso, para evitar que incidentes possam vir a
afetar, inclusive, outros países. É preciso, reforça o presidente, que
as pessoas atentem para o fato que o Brasil tem 8.000 quilômetros de
costa e vejam a importância das espécies do oceano profundo e não
somente das praias. "Tem que ver a importância do oceano no seu aspecto
mais amplo."
Evento paralelo
Além de workshops, visando à elaboração de propostas que serão
encaminhadas à sociedade, o congresso contará com palestras de
especialistas e apresentação de 1.360 trabalhos científicos. O evento
conta com apoio da Marinha, da Petrobras, da ANP (Agência Nacional do
Petróleo) e do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). Está
prevista palestra sobre a importância da oceanografia para a estratégia
da Marinha. Durante o congresso, serão comemorados os 35 anos do curso
de oceanografia da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro).
O congresso objetiva apresentar novos conhecimentos por meio de
pesquisas técnicas e científicas na área dos oceanos. Esta é a primeira
vez que o evento é promovido no Rio de Janeiro, Estado considerado pela
Associação Brasileira de Oceanografia uma referência no Brasil no que
tange a questões no mar.
Em paralelo, ocorrerá a 7ª Feira Técnico-Científica Brasil Oceano, para
apresentação, promoção e comercialização de novos produtos, serviços e
tecnologias. Carlos Leandro afirma que a feira pretende estimular alunos
do segundo grau de escolas públicas e privadas a conhecerem
equipamentos usados em oceanografia, entre os quais um radar que mede
correntes remotamente.
A feira destaca também projetos ambientais desenvolvidos por ONGs
(organizações não governamentais). "As ONGs não podem ficar fora do
processo, porque além de formadoras de opinião, elas são uma forma de
pressionar o setor produtivo a ter políticas ambientais."
http://noticias.uol.com.br/meio-ambiente/ultimas-noticias/redacao/2012/11/13/oceanografo-defende-controle-ambiental-na-area-de-exploracao-do-pre-sal.htm