Carlos Iavelberg
Do UOL, em Caracas
11/03/2013
Além de ocupar o vazio político deixado por Hugo Chávez, o futuro
presidente venezuelano, que será escolhido no dia 14 de abril, terá a
difícil missão enfrentar os problemas da economia do país.
Não que ela esteja em recessão. Pelo contrário: em 2012, o PIB (Produto
Interno Bruto) cresceu 5,6%, segundo o Banco Centra local. O Brasil,
por exemplo, cresceu apenas 0,9%. Acontece que a população tem sofrido,
principalmente, com a falta de alimentos básicos e a inflação alta.
Em fevereiro, o índice de escassez de alimentos medido pelo BC do país
atingiu 19,7%. No mês anterior, ficou em 20,4%, o maior percentual desde
2008. Isso significa que, de cada cem produtos procurados pelos
venezuelanos, vinte não estavam nas prateleiras.
"Falta óleo, farinha, arroz, leite e açúcar. É o preço que o país paga
por importar tudo e não produzir nada", afirma o taxista equatoriano
Luís Bombom, 41, que mora em Caracas há 20 anos.
Com uma indústria quase toda focada na exploração do petróleo --o país é
um dos maiores produtores mundiais--, a produção interna de alimentos é
insuficiente para abastecer o mercado, o que impulsiona as importações.
"Isso aqui [doce de leite] é colombiano. Isso [batata frita] é
americano. Esse chocolate é Nestlé, nem preciso dizer que não foi feito
aqui. Tudo o que compramos é importado e caro. Olha esse iogurte, custa
15 bolívares [R$ 4,70, no câmbio oficial]. Com isso encho o tanque do
carro três vezes. Isso te parece normal?", reclama a dona de casa
Patrícia Lahmann, 55, em um supermercado na região oeste de Caracas.
Um litro de água custa 65 vezes um litro de gasolina
Realmente, a economia venezuelana produz situações surreais para a
realidade brasileira. Um litro de gasolina na bomba custa um pouco menos
de 0,1 bolívar [R$ 0,03]. Ou seja, para encher um tanque de 45 litros,
um venezuelano gasta 4,5 bolívares [R$ 1,40].
Na loja de conveniência desse mesmo posto, uma garrafa de água mineral
de 1,5 litro custa 9,79 bolívares [R$ 3,05]. Isso significa que um litro
de água custa 65 vezes um litro de gasolina.
"O número de estabelecimentos produtivos despencou, as exportações
não-petrolíferas desapareceram e, como consequência, o setor industrial
no Produto Interno Bruto diminuiu significativamente. O governo
favoreceu as importações em detrimento da produção nacional", criticou
em um artigo o economista José Guerra, ligado a partidos de oposição.
A dependência que a economia tem no petróleo só cresceu ao longo do
governo Chávez. Em 1999, quando ele assumiu, de cada US$ 100 exportados,
US$ 80 vinham da commodity. Em 2011, esse valor era de US$ 95.
Inflação está entre as dez mais altas do mundo
Outro problema que aflige os venezuelanos é a inflação, que está entre
as dez mais altas no mundo. Em 2012, o índice medido pelo governo fechou
em 20,1%. Só nos dois primeiros meses deste ano, a inflação acumulado é
de 5%. Para comparação, em todo o ano passado, o Brasil registrou 5,84%
--índice considerado alto por economistas.
Para tentar segurar os preços o governo congelou o valor alguns
produtos básicos e mantém o câmbio fixo. A recente desvalorização do
bolívar, porém, pode prejudicar o controle da inflação. Em fevereiro, o
governo aprovou uma desvalorização no câmbio oficial de 32%: US$ 1
passou de 4,30 a 6,30 bolívares. No câmbio paralelo, porém, US$ 1 pode
ser negociado a 20 bolívares.
Como muitos alimentos são importados, um dólar mais caro eleva também o preço para os consumidores venezuelanos.
"Com o câmbio fixo --congelado, melhor dizendo—e inflação alta como a
da Venezuela, é impossível desenvolver a indústria e a agricultura.
Simplesmente, o aumento do custo da produção local, devido à inflação,
elimina a competitividade da economia. Dessa maneira, as importações
ficam mais baratas e as exportações mais caras", analisa Guerra.
http://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-noticias/2013/03/11/na-venezuela-preco-de-um-iogurte-equivale-a-tres-tanques-de-gasolina.htm