Uma enorme área do Pacífico está tomada por cerca de 100 milhôes de toneladas de lixo
Por Eduardo Araia
Por Eduardo Araia
O maior depósito de lixo do mundo não se localiza em terra firme.
Está no Oceano Pacífico, numa imensa região do mar que começa a cerca de
950 quilômetros da costa californiana e chega ao litoral havaiano. Seu
tamanho já se aproxima de 680 mil quilômetros quadrados, o equivalente
aos territórios de Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito Santo somados
– e não pára de crescer.
Meio Ambiente
Descobridor do aterro marinho gigante, também chamado de
“vórtice de lixo”, o oceanógrafo norte-americano Charles Moore acredita
que estejam reunidos naquelas águas cerca de 100 milhões de toneladas de
detritos – que vão desde blocos de brinquedos Lego até bolas de futebol
e caiaques. Correntes marinhas impedem que eles se dispersem. “A idéia
original que as pessoas tiveram foi que era uma ilha de lixo plástico
sobre a qual você quase poderia andar”, observa Marcus Eriksen, diretor
de pesquisas da Algalita Marine Research Foundation, organização
norte-americana criada por Moore. “Não é nada disso. É quase uma sopa
plástica.”
Cerca de 20% dos componentes desses depósitos são atirados ao
mar por navios ou plataformas petrolíferas. O restante vem mesmo da
terra firme. Segundo o oceanógrafo Curtis Ebbesmeyer, especializado em
destroços de navegação e que acompanha a presença de plásticos nos mares
por mais de 15 anos, o vórtice de lixo se assemelha a um organismo
vivo: “Ele se move como um animal grande sem coleira.” A aproximação
dessa massa à terra firme, por eventuais mudanças de correntes marinhas,
produz efeitos temíveis, assinala o cientista: “A colcha de lixo
regurgita, e você tem uma praia coberta com esse confete de plástico.”
MOORE DESCOBRIU o mar de lixo por acaso. Em
1997, ele participava de uma competição de iatismo entre Los Angeles e o
Havaí e tentou cortar caminho por uma rota evitada pelos navegadores,
entrando no vórtice conhecido como North Pacific Gyre (“Giro do
Pacífico Norte”) – uma região sem ilhas onde as águas do Pacífico se
movimentam lentamente de forma circular, no sentido horário, por conta
de ventos escassos e fortes sistemas de alta pressão. O acúmulo de
detritos ali chega a tal ponto que para cada quilo de plâncton nativo da
região contam se seis quilos de plástico.
Moore ficou boquiaberto por se ver cercado de detritos, dia após dia, a
tamanha distância do continente. “A cada vez que eu subia ao convés,
havia lixo flutuando perto”, ele disse numa entrevista. “Como pudemos
emporcalhar uma área tão imensa? Como isso podia continuar por uma
semana?” A experiência marcou tanto o oceanógrafo que ele, herdeiro de
uma família que fez fortuna com petróleo, vendeu toda a sua participação
acionária e se tornou um ambientalista.
http://www.terra.com.br/revistaplaneta/edicoes/427/artigo76909-1.htm
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