28/06/2013 - Autor: Jéssica Lipinski - Fonte: Instituto CarbonoBrasil
Atualmente, cerca de 80% das chuvas anuais na Índia ocorrem durante a estação de monções, de junho a setembro. Em 2012, essas monções foram particularmente intensas, forçando nove milhões de pessoas na Índia a fugirem do fenômeno. Já em 2013, as chuvas, que chegaram mais cedo do que o esperado, mataram 130 pessoas até agora. E segundo Harish Rawat, ministro de Recursos da Água, a cada ano cerca de 1,85 mil indianos morrem afogados por causa das enchentes provocadas pelas monções, além dos danos à infraestrutura e agricultura.
Como se vê, a situação provocada pelos fenômenos climáticos relacionados às monções já causa prejuízos enormes à Índia, mas infelizmente a situação pode ficar ainda pior. Pesquisadores do Instituto Potsdam para Pesquisa do Impacto Climático (PIK) apresentaram na última semana um estudo que sugere que as chuvas diárias que ocorrem durante o período de monções na Índia podem sofrer cada vez mais variação devido às mudanças climáticas, levando a ainda mais extremos climáticos como enchentes.
Na pesquisa, publicada no periódico Geophysical Research Letters, os cientistas usaram um conjunto de 20 modelos climáticos diferentes para prever o que pode acontecer sob vários cenários de mudanças climáticas.
Dos 20 modelos, os pesquisadores se focaram nos dez mais realistas em relação aos padrões das monções, uma abordagem considerada conservadora, já que esses modelos apresentaram as taxas mais baixas de variação. Ainda assim, todos os modelos estimaram um aumento na variação diária de precipitação durante as monções indianas.
“Aumento da variabilidade – esse termo técnico se traduz em impactos potencialmente severos sobre pessoas que não podem arcar com perdas adicionais”, colocou Anders Levermann, um dos autores da análise.
Levermann acrescentou que mesmo se a precipitação média continuar inalterada, os impactos podem ser substanciais. “Se focar na média nem sempre é útil. Se a chuva vem e é seguida por uma seca, isso pode ser devastador mesmo se a média é normal. Isso exige o tipo certo de medidas de adaptação que respondem por essa variabilidade – tais como esquemas de segurança inteligente, por exemplo.”
Nas simulações dos modelos, os pesquisadores descobriram que, se os gases do efeito estufa (GEEs) continuarem a ser emitidos na taxa atual, a variabilidade da precipitação mudaria entre 13% e 50%, até agora a maior alteração prevista por modelos climáticos.
Mesmo os resultados mais consistentes apontam para uma variabilidade de 4% a 12% nas chuvas diárias das monções para cada grau Celsius de aquecimento. Ou seja, mesmo se o aquecimento global for limitado a dois graus Celsius, o aumento ainda resultaria em uma elevação na variabilidade das chuvas diárias de 8% a 24% em relação aos níveis pré-industriais.
Entre os fatores das mudanças climáticas que podem perturbar a regularidade da precipitação está a maior capacidade de retenção da umidade do ar em uma atmosfera mais quente, e também fenômenos mais complexos, como o resfriamento na parte mais alta da atmosfera, que muda a pressão corrente, e, portanto, os padrões pluviométricos.
“Isso é um indicador robusto”, explicou Arathy Menon, outro autor da pesquisa. “Então, limitar o aquecimento global é a chave para reduzir a variabilidade diária das monções, a adaptação não pode substituir isso, mas sim complementar”, confirmou Levermann.
E esse não foi o único estudo a indicar que as mudanças climáticas podem alterar os padrões dos fenômenos climáticos.
O Ministério do Meio Ambiente e Florestas da Índia lançou um relatório que afirma que “todas as regiões mostram um aumento na variação de enchentes entre 10% e 30%. Isso tem uma implicação muito severa para as infraestruturas existentes nas áreas, tais como pontes, estradas, etc., e [as regiões] devem exigir que medidas de adaptação apropriadas sejam tomadas”.
Entre as medidas de adaptação sugeridas estão a criação de sistemas de administração de enchentes, sistemas de alerta precoce, redução da vulnerabilidade social através do planejamento de uso da terra, liderança governamental em nível local, realocação da população para locais mais seguros etc.
“Tal força da natureza não pode ser domada pelo homem. É melhor se adaptar, em primeiro lugar reduzindo as áreas residenciais ao redor [de pontos de enchente, como o rio Brahmaputra]”, observou Ashvin Gosain, professor do Instituto Indiano de Tecnologia em Nova Déli.
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