Edição Especial de Energia/Junho de 2012
12/06/2012
por Fabiane Stefano
Fonte: NATIONAL GEOGRAPHIC BRASIL
Em 22 de agosto de 1889, a água do rio Paraibuna girou pela primeira
vez uma das duas turbinas importadas dos Estados Unidos compradas para a
usina de Marmelos, na cidade mineira de Juiz de Fora. Naquele dia, eram
gerados os primeiros watts-hora (Wh) de energia hidrelétrica da América
Latina. A usina foi construída pelo industrial mineiro Bernardo
Mascarenhas, que, ao visitar a Exposição Universal de 1878, em Paris,
decidiu construir uma tecelagem que seria abastecida com energia de
origem hidráulica. Meses depois de inaugurada, a primeira hidrelétrica
brasileira passou a fornecer eletricidade para manter acesas 180
lâmpadas da iluminação pública de Juiz de Fora, antes alimentada a gás.
Dos primeiros 250 quilowatts de potência na usina Marmelos aos atuais
84.736 megawatts (MW) de capacidade hidrelétrica instalada no Brasil
passaram-se mais de 120 anos e, apesar dos avanços tecnológicos e do
tamanho das novas usinas, gerar eletricidade da água continua sendo
basicamente igual: a força contida na correnteza dos rios movimenta uma
turbina acoplada a um gerador, que transforma energia mecânica em
elétrica.
Mas nunca na história deste país as hidrelétricas causaram tanta
polêmica como agora. O centro da atual discussão é a construção da usina
de Belo Monte, no Pará, a ser erguida às margens do rio Xingu. A obra,
cujo preço é estimado em 32 bilhões de reais, deverá ser a terceira
maior hidrelétrica do mundo – atrás apenas das de Três Gargantas, na
China, e Itaipu, no Brasil – e criou dois times que lutam em campos
opostos. No grupo dos especialistas, dos analistas econômicos e do
próprio governo, apenas grandes hidrelétricas serão capazes de fornecer
energia limpa e barata em escala suficiente para satisfazer a demanda
crescente por luz elétrica no país. No time dos ecologistas e dos
ativistas sociais, os ganhos são bem menores em comparação ao rastro de
destruição que elas deixam para o meio ambiente, para as populações
indígenas e para as comunidades ribeirinhas. Entre os dois pontos de
vista, há um fato e um dilema: o Brasil é o país com o maior potencial
hidrelétrico do mundo, com mais de 260 mil megawatts já catalogados.
Apenas um terço disso é explorado. A riqueza dos rios brasileiros para
geração de eletricidade é uma bênção da natureza ou uma maldição, que
nos acompanhará por todo o século 21?
Poucos países no mundo desfrutam de um sistema hídrico tão generoso
quanto o nosso. Os livros escolares apontam que 55.455 quilômetros
quadrados (do total de 8.514.876 quilômetros quadrados que compõem a
área do território brasileiro) estão cobertos por água, distribuídos em
rios, lagos e riachos. É a abundância de rios e quedas-d’água que produz
o enorme potencial de energia hidráulica. Hoje, estão em operação mais
de 180 grandes usinas, responsáveis por quase 70% da produção nacional
de energia elétrica. Isso também faz do país o segundo maior produtor de
energia hidrelétrica no mundo, com 12% da geração mundial, perdendo
apenas da China. Segundo dados da Empresa de Pesquisa Energética (EPE),
órgão ligado ao Ministério de Minas e Energia, outros 73 projetos
hidrelétricos estão em construção, incluindo as pequenas centrais. E
mais 24 estão programados até 2020. A lista de projetos deve atender à
crescente demanda. Estima-se que até aquele ano o consumo no Brasil deva
atingir 730 mil gigawatts-hora (GWh) – 52% a mais do que consumimos em
2011.
A imensa necessidade de energia é explicada pela expectativa de
fortalecimento da economia brasileira. Nos últimos cinco anos, o país
cresceu em média 4% ao ano, o que nos posicionou como a sexta maior
economia do planeta. Um dos aspectos mais visíveis desse bom momento foi
a ascensão de mais de 30 milhões de brasileiros à chamada nova classe
média. Os consumidores emergentes não hesitam em comprar televisores,
geladeiras, freezers, computadores, celulares e toda a sorte de
eletrodomésticos – e, com isso, aumentam o consumo de luz.
Até 2020, o Brasil terá de ampliar a capacidade de geração dos atuais
115 mil megawatts para 171 mil megawatts. Para cumprir essa meta, o
governo federal aposta na expansão de diferentes matrizes de produção. A
geração de energia nuclear, que, no passado, era o alvo preferencial
dos ecologistas, deverá crescer 70% com a entrada em operação da usina
Angra 3, prevista para 2016. Os investimentos também serão generosos na
promissora alternativa eólica. Mas, mesmo com essa diversificação e o
aumento de capacidade de outras fontes, mais da metade da expansão
energética se dará por meio das grandes hidrelétricas. Serão acrescidos
ao sistema mais 30 mil megawatts – potência suficiente para abastecer as
regiões Norte e Nordeste juntas. Para pânico dos ambientalistas, quase
toda a nova capacidade instalada deverá ocorrer na região amazônica.
Fonte: http://viajeaqui.abril.com.br/materias/questao-hidreletrica-brasil#2
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