por Adriano Gambarini em 5 de julho de 2012
Recentemente fui convidado pelo Grupo Pierre Martin de Espeleologia –
GPME para conhecer uma de suas importantes descobertas. A Gruta do
Riacho Subterrâneo, em Itu, interior de São Paulo. Não é segredo de
ninguém que Itu é a cidade dos superlativos, onde tudo é grande,
imponente. E, para não deixar por menos, tem em suas terras a maior
caverna em granito do Hemisfério Sul.
A Gruta do Riacho Subterrâneo foi “descoberta” pela espeleologia
brasileira a partir de um passeio informal do amigo de um integrante do
GPME, no Camping Casarão. Em meio a chalés, recantos tranquilos para
descanso familiar e um impecável atendimento ao público, ele ouviu de
soslaio sobre a existência de uma gruta, no meio dos blocos de granito
que decoram a paisagem. Como toda gruta tem seu valor, não importa o
tamanho, avisou o grupo. E como quase toda grande descoberta é casual, o
GPME foi conhecer a região num fim de tarde, crendo que conseguiriam
explorar e mapear a gruta em pouco tempo. Afinal, grutas em granito
normalmente são pequenas, dado seu processo de formação estar associado
ao posicionamento aleatório de grandes matacões e blocos da rocha.
Qual foi a surpresa quando viram que o buraco era mais embaixo.
Literalmente. Foram mais de 15 viagens para explorar, mapear a gruta e
chegar à marca, não finalizada, de 1.249 metros, e ao título de maior
caverna em granito do Hemisfério Sul. Além disso, encontraram potes de
cerâmica que podem agregar valor arqueológico, uma infinidade de animais
e pequenos e raros espeleotemas, despertando a curiosidade de
especialistas espanhóis.
A pesquisa biológica conduzida pela Prof. Maria Elina Bichuette e sua
equipe, responsável pelo Laboratório de Estudos Subterrâneos da UFSCar,
encontrou cerca de 98 espécies de invertebrados (terrestres e
aquáticos). Contudo, tal estudo é preliminar, já que ainda não foi
realizado um levantamento de espécies de morcegos, o que certamente
atribuirá uma importância ainda maior. Os pesquisadores farão uma
amostragem de longo prazo, conciliando períodos de chuva e seca; afinal,
estudos de fauna subterrânea são primordiais para sua compreensão e
conservação.
Se porventura tais palavras atiçaram a curiosidade de espeleoturistas,
segue um aviso: a Gruta do Riacho Subterrâneo pode carregar este
importante título, mas os adjetivos de Itu também servem para sua
exploração. Não é para qualquer um. A rocha é extremamente áspera, como
se tivesse dentro de um enorme ralador de queijo! E o que mais se
encontra é quebra-corpos e passagens diminutas entre os blocos
gigantescos, onde a ralação extrema é uma realidade. Não é à toa que os
espeleólogos demoraram tanto neste trabalho. A exploração desta gruta é
desgastante e complicada. Penetrar em claustrofóbicos espaços é comum.
Ter que tirar o capacete para transpor trechos entre blocos, ou pulá-los
entre profundas fendas, um fato. Ali, os extremos coexistem. Assim como
suas belezas.
Fonte: http://viajeaqui.abril.com.br/national-geographic/blog/adriano-gambarini/2012/07/05/gruta-do-riacho-subterraneo-a-maior-caverna-em-granito-do-hemisferio-sul/
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