“Ele só me dava uma dose de pinga por dia”, disse o trabalhador rural
José Geraldo Moreira de Araújo, de 49 anos ao se referir ao tratamento
que recebia do patrão em uma fazenda de Passos
(MG). Ele foi encaminhado para tratamento médico após ser encontrado em
condições de escravidão na Comunidade das Águas, pela Patrulha Rural da
Polícia Militar de Passos, nesta terça-feira (21).
Há oito anos, José Geraldo era tido como escravo de um fazendeiro da
região. Segundo os vizinhos denunciaram à PM, ele mantinha o homem em um
cômodo anexo à casa da propriedade rural e o alimentava apenas algumas
vezes por semana com arroz e torresmo.
No local não há água encanada e nem eletricidade. O trabalhador também
não recebia salário e não teve folgas ou férias durante o período.
“Estivemos no local para averiguar as denúncias e constatamos que ele
vivia em condições subumanas, sem ambiente para uma pessoa viver
dignamente. No cômodo não havia conforto algum, apenas um amontoado de
coisas e um mau cheiro terrível. É perigoso até que existam animais
peçonhentos. Ele também não tem roupas e nem calçados, vive com doações
de vizinhos que tem dó. Ele estava lá há oito anos sem folga e sem
receber salário. Segundo os moradores vizinhos, o fazendeiro entregava
R$ 100 por mês em dinheiro para algum familiar dele, o que não ficou
claro e nem confirmado por ele”, disse o sargento Abreu.
Acompanhado pelo cabo Geraldo, eles estiveram na fazenda e constataram
que além das condições precárias em que o trabalhador era mantido, havia
também maus tratos. “Ele relatou que apanhava do fazendeiro com
frequência e que só saia uma vez por mês, para em Alpinópolis (MG) onde vivem os parentes. Mas ele era mantido como escravo ”, acrescentou o militar.
Ainda de acordo com o policial, o dono da fazenda não estava no local.
Apenas o filho dele foi localizado. Segundo o trabalhador que era
mantido como escravo, o homem ia todos os dias à fazenda para lhe
entregar a dose de cachaça e supervisionar o trabalho. “Ele sempre me
batia quando achava que algo não estava como ele queria”, completou José
Geraldo.
Segundo a PM, o Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA) foi acionado já
que o fazendeiro mantém oito cabeças de vacas leiteiras, mas sem local
adequado para pastagem, o que obrigava o trabalhador a levá-las para a
beirada da estrada ou a invadir propriedades vizinhas para se
alimentarem. “Isso configura outro crime, que são os maus-tratos contra
animais e também invasão de propriedades alheias”, pontuou o sargento.
O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Passos, Antônio de Paula Lopes, também foi acionado e acompanhou os policiais até a Delegacia de Passos. Segundo ele, o caso já está sendo analisado. “Nunca tivemos casos semelhantes, mas pelo que checamos, é realmente grave a denúncia. Este empregador, pela lei, tinha que manter o trabalhador com carteira assinada, recolhimento de FGTS, descanso semanal remunerado, férias, décimo terceiro, fornecimento de equipamentos de proteção individual e outros benefícios que o trabalhador precisa”, disse.
O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Passos, Antônio de Paula Lopes, também foi acionado e acompanhou os policiais até a Delegacia de Passos. Segundo ele, o caso já está sendo analisado. “Nunca tivemos casos semelhantes, mas pelo que checamos, é realmente grave a denúncia. Este empregador, pela lei, tinha que manter o trabalhador com carteira assinada, recolhimento de FGTS, descanso semanal remunerado, férias, décimo terceiro, fornecimento de equipamentos de proteção individual e outros benefícios que o trabalhador precisa”, disse.
Ainda segundo Lopes, o caso será repassado ao Ministério Público do
Trabalho e também à Comissão dos Direitos Humanos. “Vamos tomar todas as
providências e garantir que o trabalhador receba pelo que já
trabalhou”, pontuou.
O boletim de ocorrência foi recebido na Delegacia de Passos e os
envolvidos foram ouvidos. O suspeito ainda é procurado. A Polícia Civil
disse que vai abrir um inquérito para apurar o caso. O fazendeiro deve
responder por trabalho escravo, maus tratos de animais e porte ilegal de
arma – já que uma arma antiga foi encontrada na casa dele.
Já para José Geraldo, toda a ocorrência tem apenas um sentido: “Quero ser um trabalhador livre, né”, finalizou.
http://g1.globo.com/mg/sul-de-minas/noticia/2013/05/ele-so-me-dava-pinga-diz-vitima-de-trabalho-escravo-em-passos-mg.html
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