JOÃO CARLOS MAGALHÃES
BRENO COSTA
DE BRASÍLIA
DE BRASÍLIA
O governo Dilma Rousseff melhorou a renda dos pobres, mas não solucionou seus níveis miseráveis de acesso a emprego e educação.
É o que revela um indicador que o próprio governo federal usa para
analisar a pobreza no país, cuja base de dados de dezembro de 2012 a
Folha obteve por meio da Lei de Acesso à Informação.
Chamado de Índice de Desenvolvimento da Família (IDF), ele é aplicado ao
Cadastro Único (banco de dados federal sobre famílias de baixa renda) e
possibilita uma mensuração detalhada da situação do pobres.
Em vez de definir a pobreza só pela renda, como faz a propaganda
oficial, o IDF a divide em seis dimensões: vulnerabilidade da família,
disponibilidade de recursos (renda), desenvolvimento infantil, condições
habitacionais, acesso ao trabalho e acesso ao conhecimento.
Cada uma delas ganha uma nota, que varia de 0 a 1, onde 1 significa que a
família tem todos os direitos fundamentais ligado a cada dimensão
garantidos, e 0 significa que tem todos eles violados.
Juntas, essas seis notas criam uma média geral --que, no caso dos pobres brasileiros, está em 0,61.
O índice de renda, por exemplo, está acima da média: 0,63. Essa
performance tem relação com as mudanças feitas no Bolsa Família, que
elevaram o orçamento do programa em cerca de 67%, chegando a R$ 24
bilhões.
A última ampliação, feita em 2013 e portanto não captada pelos dados
obtidos pela reportagem, concedeu um complemento para quem tivesse
rendimento mensal per capita inferior a R$ 70 --considerado pelo governo
teto para caracterizar a miséria.
CAMPANHA
Essa erradicação monetária da pobreza extrema cadastrada motivou uma
campanha publicitária que anunciou que "o fim da miséria é só um
começo".
Eco da promessa feita por Dilma em 2010 de acabar com a extrema pobreza,
o mote estará em sua campanha pela reeleição no ano que vem.
O que contradiz o slogan é o desempenho das dimensões "acesso ao
conhecimento" e "acesso ao trabalho". O índice da primeira, que capta a
situação de adultos e de parte dos jovens, está em 0,38. O da segunda,
em 0,29.
É difícil fazer uma análise comparativa dessas notas, uma vez que não existem cálculos recentes do IDF para toda a população.
No entanto, uma maneira de traduzir as notas é pensar que o IDF foi
concebido no segundo governo Fernando Henrique Cardoso para medir o grau
de acesso a direitos fundamentais por meio de perguntas objetivas --a
cada "sim" a nota aumenta, e a cada "não", diminui.
Aplicando essa ideia à nota geral, é como dizer que os pobres
brasileiros têm acesso a 61% de todos os seus direitos fundamentais e
são privados de 39% deles.
Em relação às notas mais baixas, é como dizer que eles acessam 29% dos
direitos ligados ao trabalho e 38% dos relativos ao conhecimento. Alguns
componentes detalham essas dimensões. Por exemplo, a proporção de
famílias pobres com ao menos um adulto analfabeto, que supera os 80%.
Como o país experimenta algo próximo do pleno emprego, uma possível
explicação é que a falta de formação nessa fatia da população é o maior
limitador para que ela encontre trabalho.
A baixa nota das duas dimensões indica também que o número de pessoas
que precisa do Bolsa Família não deve diminuir tão cedo, porque o
emprego e a educação são tidas como as principais "portas de saída" do
programa.
OUTRO LADO
O Ministério do Desenvolvimento Social afirmou que o país experimenta
"inegáveis" avanços na educação e no trabalho, que não necessariamente
são captados pelo Índice de Desenvolvimento da Família (IDF).
"O Cadastro Único tem particularidades, entre elas o fato de as pessoas
buscarem o cadastramento exatamente quando enfrentam períodos de
dificuldades socioeconômicas e choques negativos, como perda de
emprego", afirmou a pasta.
"Dessa maneira, os inegáveis avanços que o país teve nas áreas de
educação e trabalho são muito mais bem capturados por meio de fontes de
dados voltadas especificamente a esses temas, como, por exemplo, o Censo
da Educação Básica."
Em relação à dimensão "acesso ao conhecimento", a pasta informou que ela
está "focada na escolaridade dos adultos e não das crianças e
adolescentes, público-alvo do acompanhamento das condicionalidades do
Bolsa Família". A dimensão que mede o grau de desenvolvimento infantil
obteve a melhor nota no IDF, alcançando 0,85. (JCM e BC)
http://www1.folha.uol.com.br/poder/2013/05/1285016-maior-renda-nao-erradicou-miseria-social.shtml
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