UMA CRIANÇA MORRE DE FOME A CADA 5 SEGUNDOS
Existem alimentos para suprir quase o
dobro da população mundial com as calorias diárias necessárias, mas o
controle de multinacionais e a especulação financeira dificultam o
acesso
- Detalhes Publicado em Terça, 29 Novembro -0001 20:53
Por Aray Nabuco, Frédi Vasconcelos e Lilian Primi
O sociólogo suíço Jean Ziegler veio ao Brasil para o lançamento da
edição de seu livro Destruição em Massa – Geopolítica da Fome, da Cortez
Editora. Ele, que foi relator especial da ONU sobre direito à
alimentação, mostra na obra o absurdo de um mundo que produz alimentos
suficientes para alimentar o dobro da população mundial com as calorias
diárias necessárias e tem quase 1 bilhão de pessoas passando fome por
conta da falta de acesso, da especulação financeira com alimentos e do
controle da produção mundial de alimentos de base e sementes por seis
multinacionais, entre outros motivos.
Nesta entrevista exclusiva a Caros Amigos, Ziegler também falou que a fome vem aumentando na maioria dos países, com exceção de Brasil e China, que contam com programas como a reforma agrária promovida no país asiático, mas que é necessário fazer muito mais para evitar a destruição em massa de pessoas que descreve no livro. Veja abaixo os principais trechos.
Nesta entrevista exclusiva a Caros Amigos, Ziegler também falou que a fome vem aumentando na maioria dos países, com exceção de Brasil e China, que contam com programas como a reforma agrária promovida no país asiático, mas que é necessário fazer muito mais para evitar a destruição em massa de pessoas que descreve no livro. Veja abaixo os principais trechos.
Caros Amigos – Há dois grandes movimentos em curso na área de
produção de alimentos – a transferência de tecnologia da Embrapa de
produção no cerrado para a África e a tentativa de diversificar a fonte
de fosfato para a fabricação de adubos. Esses movimentos ajudam a acabar
com o quadro da fome no mundo?
Jean Ziegler – Ajudam, ajudam. Mas temos o último relatório anual da
FAO (agência da ONU para alimentação e agricultura) sobre a situação da
fome no mundo. As cifras gerais são terríveis. A fome aumenta
mundialmente, com exceção do Brasil e da China. A cada cinco
segundos, uma criança com menos de 10 anos morre de fome, segundo
dados do ano passado; 57 mil pessoas morrem ao dia. E 1 bilhão
de pessoas, dos 7 bilhões que somos, está sofrendo de subnutrição
grave permanentemente, com mutilações. Não têm vida de família nem de
trabalho, são destruídas pela subalimentação permanente. O mesmo
relatório da FAO, que tem muitos detalhes de cada país, diz que a
agricultura mundial, no atual estágio de desenvolvimento,
poderia alimentar normalmente 12 bilhões de pessoas com 2,2 mil calorias
por adulto, em média.
Isso significa que hoje, pela primeira vez desde o início do milênio,
não há mais falta objetiva de alimentos. Uma criança que morre de fome
neste instante em que falamos está sendo assassinada. O mundo viveu
revoluções formidáveis, eletrônica, industrial e tecnológica, de aumento
das forças produtivas da humanidade. Pela primeira vez na história, a
fome não é mais problema de produção, porque o mundo tem estoque, mas de
falta de acesso.
Há pelo menos vinte anos se fala muito também sobre desperdício.
E continua. Cerca de 25% da produção mundial (de alimentos) se perdem
no Hemisfério Sul porque não há silos. Há dois problemas
diferentes. Nos países industrializados, existe muito desperdício
doméstico. Nos supermercados da França as pessoas compram montanhas de
alimentos a cada sábado e depois jogam metade fora porque perdem a
validade. Outro problema é de estocagem. Na Nigéria, no Mali, os
depósitos de alimentos têm infiltrações de água, há ratos e pragas. Nos
países de Terceiro Mundo, 25% dos estoques são destruídos dentro dos
silos. É muito importante saber que vivemos uma situação crucial
totalmente nova em que há alimento demais no mundo, mas a pirâmide
das vítimas cresce. É a ordem social e a ordem econômica canibal a causa
da fome. Há um massacre. Não é um problema de produção, como foi no
tempo de Josué de Castro (médico brasileiro que, em 1946, lançou o livro
Geografia da Fome, no qual mostrava que a fome não era um
problema natural, mas sim das ações dos homens, de suas opções, da
condução econômica que davam a seus países. NR)
Leia a entrevista completa na edição 195 de Caros Amigos nas bancas ou loja virtual
http://carosamigos.terra.com.br/
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